segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Edição de segunda-feira, dia 26 de Novembro de 2007

Bem-vindos ao Anoitecer ao Tom Dela. Nesta edição há música em português até às 21h, música do mundo das 21h às 22h, uma história contada entre as 22h e as 23h, e a rubrica Filhos da Madrugada - hoje dedicada a Rickie Lee Jones - após as 23h. Só nos falta a sua companhia para que a noite seja perfeita. Anoiteça connosco.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Aprender até viver

Apesar das dificuldades da turma em compreender as muitas cambiantes da língua portuguesa, os substantivos “miséria” e “determinação” são bem conhecidos de Isabel Figueiredo. Com um encolher de ombros e uma timidez de menina, vai desfiando o rosário da áspera jornada de toda uma vida: nasceu num tempo em que Portugal ainda recebia os ecos da II Guerra Mundial. A família, numerosa, não conseguiu sobreviver à partida e posterior desaparecimento do homem da casa: “Foi para o Brasil e por lá morreu”. Vítima de uma pobreza extrema, a mãe entregou os filhos a instituições: “O meu irmão foi para a Casa do Gaiato, a minha irmã ficou em Viseu aos cuidados da Santa Casa da Misericórdia até ir servir para casa do Dr. Oliveira Salazar e eu fui criada no Recreio, uma instituição do Caramulo fundada pelo padre Zé”.

Conta Isabel que, dos dois aos 12 anos, não conheceu outra casa. “Os tempos eram difíceis”, lembra. “Íamos para a escola com um molhinho de castanhas cozidas no bolso. Um carapau era repartido por seis meninas”. Por altura dos seus doze anos, tornou-se criada de servir de um casal com posses. Cuidar dos pequenitos – que ainda trata por “meninos” – era a sua principal tarefa. Na casa dos “senhores” se fez mulher adulta enquanto acalentava um sonho: “Ter casa própria”. Esse objectivo de Isabel cumpriu-se. Outros objectivos surgiram entretanto: “Quando soube desta oportunidade de estudar não olhei para trás”, diz a aluna com os olhos luminosos de entusiasmo. “O saber não ocupa lugar”, acrescenta.

Agora, divide o tempo entre as lições e o estudo para os testes. É das aulas de jardinagem que mais gosta. “O problema”, diz Isabel com tristeza, “é encontrar trabalho depois do curso. Aos 56 anos de idade, não vai ser fácil, mas aprendi muitas coisas”.

A vida ao contrário

A vida juntou-os numa sala de aulas cedida pela Escola Profissional de Trancoso ao Centro de Formação Profissional de Viseu. O novo objectivo destas dezoito pessoas é completar o sexto ano de escolaridade aprendendo português, matemática para a vida, inglês, informática, cidadania e jardinagem. O “diploma” seria o reingresso na vida económica activa, um prémio para quem quer trabalhar de novo depois de muito (demasiado) tempo à sombra do desemprego.

Nove da manhã. Os alunos aguardam pacientemente a chegada da professora de português. Entram na sala de forma ordenada. A lição começa onde acabou a anterior. “O que é uma lenda?”, pergunta a professora a Alberto Videira. “Uma narrativa curta”, responde a medo o aluno. “Mas qual é o objectivo?”, volta a interrogar a professora. É Fernando Pereira quem responde: “Edificar e moralizar.” A aula continua com a participação de quase todos. É uma reprodução de outras turmas e de alunos de outras idades. Há os que são faladores, os calados e, até, o espirituoso. Todos ali foram parar, no entanto, pelos mesmos motivos: desemprego, subsídio no valor de 403 euros mais alimentação e transporte, vontade de aprender. No recreio, falam das dificuldades: a língua portuguesa e o inglês são os “bichos-de-sete-cabeças”.

Conceição Marques queixa-se das palavras “modernas”, de não compreender uma língua que sempre usou sem pensar em “adjectivos, sinónimos ou antónimos”. Lucília Correia responde-lhe, explica-lhe que é simples. Que “basta utilizar exemplos práticos”. Lucília gostava de continuar. Chegar a engenheira agrónoma. O sustento dos dois filhos é a sua preocupação. “O diploma do sexto ano e o curso de jardinagem e espaços verdes não são o suficiente, mas são uma ajuda”, diz a antiga empregada doméstica, que durante cinco anos tratou de uma pessoa portadora de uma deficiência. O estágio é a próxima etapa. “Não pode escrever ‘Jardineiros oferecem-se para trabalhar?’”, pergunta um dos alunos, provocando o riso geral. O recreio termina. A conversa também. A campainha ainda não tocou, mas já se vai fazendo tarde para a aula de inglês. O que ainda não acabou, para estas pessoas na idade madura da existência, é o projecto de dar um novo empurrão à vida com objectivos que só precisam de oportunidades assim para ser atingidos.

Percurso pedestre da Serra do Caramulo dá a conhecer a Rota das Cruzes

A história da festa das Cruzes, que se realiza todos os anos na Quinta-Feira da Ascensão, na freguesia do Guardão, concelho de Tondela, perde-se no tempo. Conta a lenda que, em época de invasão dos mouros, o Guardão pediu ajuda a terras do Vale de Besteiros. A ajuda chegou e os mouros foram expulsos com “ajuda divina”. Uma capela foi construída em forma de agradecimento a S. Bartolomeu, padroeiro do lugar. Desde então, as cruzes de Santiago de Besteiros, Campo de Besteiros e Castelões seguem em romaria, aos ombros dos mordomos da festa, para se juntarem num “abraço de séculos”.

A Rota das Cruzes, inaugurada no passado domingo, nasce desta festa religiosa e pretende, de acordo com o presidente da Junta de Freguesia do Guardão, “dar a conhecer o património histórico e religioso da serra do Caramulo”. “A aposta no turismo de natureza” é outro dos objectivos deste percurso pedestre que, ao longo de oito quilómetros, dá a conhecer aos caminheiros a “ abundante flora local”.

O trajecto começa no posto de turismo do Caramulo. Uma calçada que atravessa parte do parque leva os andarilhos por caminhos florestais em direcção ao Guardão, onde, fazendo um desvio por um troço de calçada romana, poderão visitar a Igreja Matriz e a capela de S. Sebastião. Pé na estrada e continua a percorrer-se o caminho dos cruzeiros até chegar ao Janardo, povoação à qual “já coube a honra de ser cabeça do velho concelho do Guardão” e onde ainda existem a Casa da Câmara e o Tribunal, ambos em pedra talhada e construídos em 1735.

É já tempo de zarpar de novo. Poucos metros depois, por caminhos agrícolas, surgem os primeiros sinais da Festa das Cruzes: os pilares com a inscrição do nome das freguesias envolvidas na celebração religiosa vão-se sucedendo ao longo do caminho. Em breve se alcança a Capela de S. Bartolomeu, nas proximidades da qual se encontra o cruzeiro que simboliza a “protecção divina” que terá sido concedida à população do Guardão. Para continuar o percurso, há que retomar o caminho junto aos pilares graníticos. Uma ponte de origem românica permite a travessia da ribeira do Xudruro. Sobe-se a encosta até chegar à capela de Santa Luzia, no Carvalhinho. Volta-se aos caminhos agrícolas, em que marcam presença o Carvalho Negral e o Carvalho Alvarinho, e o viajante chega a Ceidão. Prepara-se então o regresso por caminhos florestais passando por Pinhal Novo.

Já com o Museu do Caramulo à vista, aproxima-se o fim da viagem, que termina apenas depois de se atravessar o Parque Jerónimo Lacerda, onde o caminhante pode observar “grande riqueza e diversidade botânica”. A Rota das Cruzes junta-se à Rota dos Cruzeiros que, segundo Pedro Adão, presidente da Junta de Freguesia do Guardão, ”tem sido um sucesso, trazendo largas centenas de pessoas à serra do Caramulo.”

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Anoitecer ao Tom Dela

Arthur Ira Garfunkel nasceu no dia 5 de Novembro de 1941. É dele que falamos na rubrica Filhos da Madrugada de hoje. E começamos ao som de uma das maravilhas que o enormíssimo talento de Paul Simon e a puríssima voz de Art Garfunkel nos legaram: Bridge Over Trouble Water.

A voz cristalina de Art Garfunkel é para ouvir a partir das 23h. Até lá, há música em português, música do mundo, e uma história em Mil e Duas Noites. A juntar a tudo isto, a companhia do Daniel Abrunheiro. Tenha uma boa noite. Faça-nos e deixe-nos fazer-lhe companhia entre as 20h e as 24h.