sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril Sempre

Um Homem no centro de uma praça chamada Liberdade: Salgueiro Maia

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Ruas de Viseu, caminhos de vida

Uma visita pela cidade de Viseu é o que lhe propomos para um fim-de-semana de sol. Não à cidade monumental. Nem mesmo à cidade do Palácio do Gelo recentemente inaugurado. Mas às ruas e ruelas deste velho burgo de Viriato, D. Duarte e Augusto Hilário.

O Rossio das crianças ao sol alimentando pombas com as suas mãos pequeninas; dos leitores de jornais sentados nas esplanadas; do carrossel com os seus cavalos coloridos girando e fazendo girar as cabeças dos petizes.
Sugerimos que se adentre no Parque Aquilino Ribeiro, que honra o escritor beirão (13 de Setembro de 1885 — 27 de Maio de 1963), e aproveite a sombra de uma das grandes árvores.
Ou então, que suba a Rua Formosa, ladeada por casas de comércio tradicional e edifícios Arte Nova. O Mercado Municipal projectado por Siza Vieira completa o retrato. Transversal à Rua Formosa, eis a Rua do Comércio onde o trato educado dos comerciantes é tão antigo como o tempo e como a honradez deles.
Ao lado da Rua do Comércio, a Rua Direita com lojas “à moda antiga” e mercadorias à porta para aliciar quem passa.

Ambas as ruas desaguam na Praça D. Duarte, 11º Rei de Portugal, que do alto da sua estátua vigia a Rua Augusto Hilário, conhecido fadista, expoente máximo do fado e da canção de Coimbra, falecido com apenas 32 anos de idade. Com a mesma idade morreu Augusta Cruz, cantora lírica, que, antes de dar nome à rua vizinha, percorreu os palcos de Itália, Polónia, México, Cuba e Brasil.

Espreite, na Rua D. Duarte, a mais bela janela manuelina da cidade, que o cónego Pêro Gomes de Abreu mandou rasgar no século XVI.
Da Praça D. Duarte ao Adro da Sé é um pulinho. A Sé Catedral, o Cruzeiro, o Museu de Arte Sacra, a Igreja da Misericórdia, o Museu de Grão Vasco e a Fonte das três Bicas regalam-lhe o olhar antes de chegar ao Largo do Pintor Gata (que se chamou em vida José d´Almeida Furtado, 1778 – 1831), e encontrar a Porta do Soar, não sem antes ter passado pela Capela Nossa Senhora dos Remédios.
Descanse num dos cafés e bares antes de descer até ao Jardim das Mães onde pode ver a carinhosa imagem de um menino dormindo no colo de sua mãe, que o escultor Oliveira Ferreira cinzelou em bronze, homenageando desta forma a terra de sua mãe.
De novo no Rossio, que nem todos sabem chamar-se também Praça da República. Passear pelas ruas históricas de Viseu, é, ao mesmo tempo, entrar pelas portas do futuro adentro com a cumplicidade testemunhal de um longo, profundo e inesquecível passado.

domingo, 20 de abril de 2008

(Sr. Ângelo e Chico)
É muito bonito ter olhos de cão, ser humano dentro.Não adianta nada para a vida, mas é bonito.Os homens da rua da minha infância ou eram cães ou não eram homens.Havia oliveiras, o merceeiro sabia-nos os nomes,encontrávamo-nos todos em pontuaiscasamentos e funerais.Não sei de onde me perdi, quando, cinzas remexendo,me desencontro noutra cidade, numa cidadedesprovida de infâncias.É muito bonito ter olhos de cão na rua,ao frio e ao vento, as árvores relvadas pelo musgo do tempo, de uma vítrea babade caracóis.

Sinfonias de Alice Campos

Dissonâncias

eu sou dos cães o latir, da idade o pressentir e do sonho o resistir. venho debaixo do seio por este meio no leito do teu peito. eu quero dizer o sabor da fruta, ser-lhe polpa e caroço, mordê-la antes de ti. vou da tua boca à beira de outra boca, à beira de outro ser. as minhas filhas são as que das outras bocas nascem, as que dos outros seres se inventam. guardada atrás dos olhos sou-lhes o brilho, a serena expressão das águas. fechada dentro da mão sou a palavra inquieta, os dedos do afecto. e, se de um extremo ao outro da terra, houver uma árvore descalça, sou um segredo do vento, uivo à solidão. eu sou o nome das ruas, a dor das escadas, a inaudível flor nocturna. em mim, existem os astros, as areias minúsculas, todas as coisas divinas e nauseabundas. de prostituta a santa, eu posso ser a alma do mar, o que religa o céu aos desenhos das crianças. no ventre das cidades, das temperaturas registadas no teu corpo, eu sou a dança. eu sou o mito das canções. chamo-me voz.

Esta poeta tem que dizer: Alice Campos