O que é? Como é? Por que motivo é? É – um programa radiofónico transmitido na Emissora das Beiras (das 20 às 24h, de 2ª a 6ª). Como é? – já falamos. Por que motivo é? – porque sim.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Outro que está "disponível", por Manuel António Pina
domingo, 20 de julho de 2008
sexta-feira, 18 de julho de 2008
terça-feira, 15 de julho de 2008
Vaca arouquesa pariu três bezerros
Nasceram no dia 12 de Maio e são os "meninos dos olhos" de Olinda Gonçalves e do seu neto Roberto.
Os três bezerros, motivo de visita dos populares que vão "ver para crer" aquilo que consideram um fenómeno, até já têm nome: Rafaela, Bonifácio de Bostarenga, em homenagem a um vizinho de infância de Olinda que "era muito reguila", e Joaquim do Porrim, para lembrar um "pobre triste e honesto, mas muito pândego", que os pais de Olinda ajudavam.
Habituada a lidar com gado desde pequena, a dona da vaca arouquesa e dos seus rebentos nem queria acreditar quando, na manhã do dia 12 de Maio, começaram a nascer os vitelos. " A vaca começou com as dores e chamámos logo o veterinário. Depois de nascerem os primeiros dois, ele botou a mão para ver se havia mais alguma coisa. Até ficou amarelo quando sentiu o terceiro bezerro", conta, orgulhosa, a dona dos animais. "Não pensei que sobrevivessem. Andava tão aflita que nem dormia. Vinha vê-los às cinco da manhã", confessa.
Apesar de se queixar do "muito trabalho" que lhe dão os trigémeos, Olinda Gonçalves não cabe em si de contente. Sobretudo pelos netos, que não saem de lá de casa para poderem brincar com os bichos. Alimentados com o leite da mãe, os três irmãos bebem ainda do biberão que Roberto, o neto de Olinda Gonçalves, emprestou para os alimentar. "Mamam quatro biberões de manhã e quatro à noite", diz a agricultora, aproveitando para se queixar do atraso dos apoios do Estado: " Estou a dever dinheiro e não há meio de chegar o subsídio. As terras agora não dão nada", diz. Mas logo se esquece do dinheiro para voltar a falar dos "pequenitos" e da sua corajosa mãe. "Coitadinha. Nunca caiu. Aguentou-se. Os bezerrinhos é que eram muito pequenos quando nasceram, mas agora já estão mais gordinhos", conta.
Na localidade de Carvalhais, no concelho de S. Pedro do Sul, há agora autênticas romarias. Ninguém quer acreditar quando houve falar da vaca que pariu três vitelos. O certo é que, quando chegam ao quintal de Olinda Gonçalves, podem vê-los e deliciar-se com as cabriolices dos pequenos animais.
Veterinário vai realizar estudo
Fernando Delgado, veterinário e professor da Escola Superior Agrária de Coimbra, diz que os casos de nascimento de dois bezerro são relativamente vulgares. "Um parto triplo, porém, não é comum", diz o médico. E revela: "Na Escola Superior Agrária de Coimbra vamos tentar fazer um estudo genético e reprodutivo, acompanhando mãe e crias, visando essencialmente a cariotipagem (despitagem de possíveis alterações genéticas que possam explicar o fenómeno) e possíveis alterações hormonais".
sábado, 12 de julho de 2008
sexta-feira, 11 de julho de 2008
A Branca de Neve
A Bela Adormecida
quinta-feira, 10 de julho de 2008
quarta-feira, 9 de julho de 2008
A Senhora da Tabacaria
"A Esquina"
terça-feira, 8 de julho de 2008
segunda-feira, 7 de julho de 2008
domingo, 6 de julho de 2008
Bandas filarmónicas do distrito de Viseu
Em Portugal, não há festa que se preze que não inclua uma filarmónica. À passagem da banda, as janelas abrem-se de par em par, transeuntes param para vê-la passar, aficionados seguem atrás dela pelas ruas. Aprumados, os executantes seguem, em formatura, exibindo os seus instrumentos dourados e prateados. O naipe de metais à frente – bombardinos, fliscornes, trompetes, clavicornes, trompas, trombones, contrabaixos e tubas, todos instrumentos de sopro. O das madeiras na retaguarda – flautins, flautas, oboés, cornes ingleses, fagotes, contrafagotes, requintas, clarinetes e saxofones, ordenados da frente para trás e do mais grave para o mais agudo. No meio a percussão – caixas, pratos, bombos e liras mantêm, a compasso, a unidade rítmica do conjunto. A banda toca para as pessoas. A banda toca as pessoas. É assim em todo o País. É também assim em Penalva do Castelo.
Da história da banda
Com mais de 150 anos – não há certezas a respeito da data da sua fundação –, a Banda Musical e Recreativa de Penalva do Castelo nasceu à sombra da casa da Ínsua. Rezam algumas crónicas que, no ano de 1850, João de Albuquerque e Cáceres, fidalgo dessa casa senhorial, contratou José Maria Lopes para administrar a propriedade. Pessoa intimamente ligada ao ensino da arte musical, não como profissional mas como entusiasta e conhecedor da arte musical, o feitor propôs aos patrões ensinar música aos serviçais durante as horas vagas. Os fidalgos não só consentiram como compraram os instrumentos com que a banda passou a animar as ruas da vila, adoptando, então, o nome Filarmónica da Casa da Ínsua, com os músicos a ostentar na lapela da farda a Flor-de-Liz, símbolo dos Albuquerque. João Caetano da Fonseca músico da Banda do Regimento de Infantaria 14 de Viseu assumiu a regência da filarmónica da Casa da Ínsua, depois da morte do fundador. No País viviam-se tempos conturbados, com a monarquia a passar por um período de grande instabilidade. Em finais do séc. XIX, as correntes de pensamento Regeneradora e Progressista deram origem a dois partidos com o mesmo nome. Os ecos da situação política nacional repercutiram-se na banda, provocando uma ruptura e consequente divisão da filarmónica em duas facções: a Progressista, conhecida na terra como a Rabuda, por os executantes usarem uns “pendericos” na boina, e a Peniqueira, apelidada assim porque as boinas dos músicos “tinham a forma de um penico”. Todavia, estas desavenças foram de curta duração. Constituídas as duas facções por familiares que se misturavam, quer numa quer noutra, foram os laços familiares a promover a união, em 1885 segundo uns e em1891 segundo outros, fortificando as estruturas da banda. O filho do fidalgo João de Albuquerque Cáceres continuou a obra do seu pai, dando também grande incentivo à filarmónica, auxiliando-a materialmente com instrumentos e fardas, transformando-a numa banda organizada e cuja reconhecida competência profissional foi altamente classificada em certames musicais em que participou ao longo dos anos.
Integração da Banda Filarmónica de Penalva do Castelo na Legião Portuguesa
Devido às condicionantes políticas e sociais da época, a banda ingressou na Legião Portuguesa e tomou o nome de Banda Distrital da Legião Portuguesa, começando a ser dirigida pelo conhecido e distinto musicólogo Almeida Campos, tendo como subchefe António de Almeida Sales e como director Casimiro da Costa Martins.
Ao longo dos anos, foi objecto dos mais diversos nomes, tais como Associação Instrutiva e Recreativa de Penalva do Castelo, Associação Musical e Recreativa de Penalva do Castelo e
Banda Distrital da Legião Portuguesa de Viseu.
O 25 de Abril e a extinção da Legião Portuguesa
A filarmónica de Penalva esteve cerca de 40 anos ligada à Legião Portuguesa como banda distrital. Depois do 25 de Abril e com a extinção da Legião Portuguesa, termina uma das muitas etapas percorridas. A banda voltou a passar por alguns períodos difíceis e, nessa altura, com a multiplicação dos agrupamentos musicais ligeiros, sofreu um novo colapso. Não fosse a carolice de alguns, teria sido extinta. Consegue, novamente, sair da crise, tendo como regente o Padre Manuel Messias. Em 5 de Maio de 1977 foi constituída, por escritura pública, a Banda Musical e Recreativa de Penalva do Castelo. Desde então, muitas foram as equipas que dirigiram a filarmónica. Entre 1978 e 1979, foi Sérgio Ferreira Eusébio, emigrante regressado da América, que orientou os destinos da instituição. De 1980 a 1981, Alexandre Ferreira da Cruz, um elemento da Guarda Nacional Republicana, foi o nomeado. A presidência mudou de novo em 1982, com o industrial José de Frias Clemente a assumir o cargo até 1983. Em 1984, a banda sofreu novas eleições, tendo como resultado a nomeação de António José Pires, professor do ensino básico, que se manteve no lugar de presidente até 1997. Em 1998 houve novo sufrágio, que colocou António Maria Silva, professor de música, na cadeira da presidência durante um ano. A partir do ano 2000, foi Gabriel de Albuquerque Costa quem presidiu à direcção da filarmónica até 2004. A banda entrou, nessa altura, num vazio directivo que durou cerca de um ano, tendo sido criada, em Janeiro de 2005, uma comissão administrativa composta apenas por músicos e liderada pelo actual presidente da direcção, Anselmo Sales, que ganhou as eleições no mesmo ano.
De casa em casa

Também as sedes da instituição foram mais que muitas, chegando a haver uma que se desmoronou sem nunca receber a actuação da filarmónica. A Banda Musical e Recreativa de Penalva do Castelo ensaiou na antiga Casa do Povo, no rés-do-chão de uma casa particular, num pré-fabricado, num armazém e numa escola. A actual sede começou a ser construída em 1993, sendo apenas inaugurada em 2005 pela actual direcção, depois de sofrer novas obras. Contudo, a filarmónica de Penalva do Castelo tem hoje uma casa digna onde funcionam os ensaios e os espectáculos da banda e uma escola de música, que ensina às crianças e jovens do concelho de Penalva aquela que é considerada a primeira das sete artes. Dificuldades financeiras Durante a sua existência, a banda passou por momentos de grandes dificuldades económicas, chegando quase à extinção. É conhecida em Penalva do Castelo uma história acerca de uma fase do seu declínio. Segundo se conta, foi entre 1932/36, período em que o País atravessava também inúmeras dificuldades de ordem política e social. Uma das causas apontadas para a decadência da filarmónica foi a dificuldade de substituir os elementos que emigravam para o estrangeiro em busca de melhores condições de vida. A banda ficou reduzida a poucas figuras e havia cada vez mais atritos entre os raros músicos que restavam. A filarmónica estava agonizante e, para muitos, morta, faltando apenas enterrá-la. Então, numa Terça-feira de Carnaval, organizou-se um grupo com a finalidade lhe fazer o enterro. O grupo percorreu a vila sob o olhar acabrunhado da maioria da população. “A cerimónia fúnebre estava completa: caixão, padre, caldeirinha da água benta (...). Um pano preto envolvia o caixão, dizendo ‘ Pela alma da Banda de Castendo’. Os músicos que restavam, velhos e novos, uniram-se durante a noite e, ao romper da aurora, na quarta-feira de cinzas, a Banda de Castendo ressurgiu e fez com que todos os Penalvenses saíssem à rua para aplaudi-la”, como consta dos arquivos da instituição. Actuações em Portugal A primeira actuação fora de Penalva do Castelo data de 1904, ano em a banda participou no Festival Musical da Figueira da Foz, onde se reuniram doze filarmónicas. E a estreia não poderia ser melhor, já que conquistou o primeiro prémio. Do ano de 1949, existe uma fotografia tirada no Buçaco, possivelmente por se ter realizado alguma actuação, mas não há informação específica. O dia 6 de Janeiro de 1954 foi um grande momento para Penalva do Castelo e para a sua banda, que com a respectiva actuação engrandeceu a inauguração do Hospital da Misericórdia da vila. No dia 26 de Setembro de 1954, outro momento alto desta colectividade: participou num concerto na Feira de S. Mateus, que, segundo alguns jornais da época, foi muito elogiado pelo público, quer pelo seu reportório diversificado, quer pela perfeição da sua execução. No dia 11 de Outubro de 1997 participou no 1º Encontro de Bandas Civis de Belas. A 15 de Novembro de 1998 tomou parte no II Encontro de Bandas Filarmónicas. No dia 10 de Setembro de 2000 participou no Encontro Distrital de Bandas Filarmónicas. E a 4 de Novembro de 2000 foi convidada a participar no XXIII Encontro de Bandas Civis em Abrantes.
Internacionalização da banda

Em 1979, verificou-se a internacionalização da Banda Musical e Recreativa de Penalva do Castelo com uma viagem aos Estados Unidos da América, entre os dias 8 e 26 de Junho, incluída nas Comemorações do dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. A deslocação aos Estados Unidos da América foi promovida pelos Amigos de Penalva, radicados na Nova Inglaterra. A filarmónica contou com a presença de trinta e três músicos, do seu regente padre Messias e do dirigente Alexandre Cruz. Entre outras actuações, deslocaram-se a Cumberland (actualmente geminada com a vila de Penalva do Castelo), a Powtuckey, a Providence e ao Connecticut. O ano de 1992 foi outra data muito importante para o reconhecimento internacional da filarmónica de Penalva: recebeu o convite para se deslocar a Espanha, à cidade de Teruel, incorporada nas festividades comemorativas do aniversário do casamento de D. Duarte e de D. Teresa, sob o título genérico VIII Muestra Internacional de Folclore . Com uma semana dedicada à cultura portuguesa, a Banda Musical e Recreativa de Penalva do Castelo representou Portugal e mereceu referências elogiosas dos espanhóis, tendo tido honras de transmissão televisiva. Em 2000, foi convidada a realizar uma viagem ao Brasil entre 30 de Novembro e 15 de Dezembro. Esta visita foi realizada a convite da Casa de Viseu, no âmbito do V Centenário da Comemorações do Descobrimento do Brasil. Da banda do presente Actualmente a Banda Musical, Recreativa e Cultural de Penalva do Castelo conta com cerca de 40 elementos músicos, entre os oito e os 60 anos, tendo atingido o número máximo com 46 elementos, que continuam a preservar a cultura popular portuguesa e a divulgar e honrar o nome de Penalva do Castelo.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Retratos

segunda-feira, 30 de junho de 2008
Armindo: um “anjo” da guarda
Quem o avista ao longe, julga tratar-se de uma autoridade: um agente da Guarda Nacional Republicana a pé e numa qualquer missão. Aproximando o olhar, no entanto, descobre que tudo na aparência de Armindo é falso. Tudo, menos o olhar azul de menino.
O aprumo dos militares dá lugar, em Armindo, a um corpo pequeno e frágil apertado numa farda improvisada e presa com arames. A autoridade dos agentes da GNR corresponde, em Armindo, à deficiente articulação das palavras e a um encolher de ombros quando lhe perguntam idade ou apelido. Até já foi preso por causa disso.
O enganoso guarda nacional republicano tem 44 anos e a idade mental de uma criança de seis. Há duas décadas que percorre incansavelmente os caminhos do concelho de Tondela disfarçado de guarda-republicano.
No quintal da casa onde vive com a mãe, na Portela de Santiago de Besteiros, na serra do Caramulo, este menino anacrónico junta calças, camisas, botas, boinas e distintivos oferecidos por antigos militares da GNR. A progenitora conta que o filho lhes pedia para que, quando morressem, lhe deixassem em testamento a farda. Depois, aguardava a chegada da morte dos vizinhos, como um menino travesso que anseia por um brinquedo que demora a chegar. “Às vezes, andava pela casa dizendo: nunca mais morrem…”, conta.
Quando não está “de serviço”, Armindo brinca com carrinhos em estradas desenhadas por ele no cimento com paus de giz branco. Os brinquedos espalhados pelo quintal, as vias de circulação com os traços contínuos e o tracejado para as ultrapassagens, as linhas ferroviárias construídas com vigas de ferro roubadas nas obras dão à casa a aparência de nela morar uma criança que tudo observa para depois reproduzir. E mora. Armindo é um menino fechado num corpo de homem maduro.
É o terceiro dos oito filhos de Hermínia Portela. Começou a balbuciar as primeiras palavras muito mais tarde do que os outros. Os primeiros passos foram difíceis e tardios. Os pais, preocupados, correram para Coimbra e Lisboa à procura de médicos que lhes dissessem o que tinha o seu “menino tão perfeitinho”. A resposta chegou quando Armindo completou três anos: “Nunca descobriram a causa. Suspeitaram de uma meningite, mas não nos deram a certeza. O certo é que Armindo não era igual às outras crianças”, diz Hermínia. E nunca mais foi.
Guarda para sempre
Mas do que Armindo gosta mesmo é de vestir a farda e fazer-se ao caminho. No vão das escadas exteriores da casa encontra tudo o que é necessário. Veste a camisa azul-clara e as calças cinzentas. Põe a gravata azul-escura. Prende com arames as divisas. Como só tem um par de botas altas de cabedal, às vezes substitui-as por botas de borracha. Coloca o coldre feito por ele – pintou-o de branco para condizer com o cinto que lhe ofereceram. Pistola não tem, mas também ninguém repara. Como não lhe deixaram bastão nem pala, um cano de ferro pende-lhe da cintura. Faltam o barrete e os distintivos. Armindo vai variando. Umas vezes, usa um barrete deixado por um militar da GNR entretanto falecido. Outras, é o boné da Marinha que lhe cobre a cabeça. Os distintivos são mais difíceis de arranjar, por isso, Armindo trocou-os por emblemas dos bombeiros.
O retrato está pronto. Ninguém vai notar, de longe, que as calças lhe são demasiado largas. Que as camisas, nem sempre do mesmo tamanho, lhe descaem sobre os ombros. Que tudo está seguro por arames. À distância, parece uma autoridade. Mesmo para um militar da GNR desprevenido. E isso tem trazido problemas, tanto para Armindo como para a Guarda Nacional Republicana. Não raras vezes Armindo foi mandado estancar a marcha. Um dos irmãos já teve de se deslocar a Coimbra, à delegação da Polícia Judiciária, para resgatar o falso GNR. “ Dois elementos da PJ estavam em Campo de Besteiros em serviço quando viram o meu irmão a pé. Era de noite. Pensando tratar-se de um guarda, quiseram dar-lhe boleia. Como ele não respondia e não dava razão de nada, puseram-no no carro e levaram-no para averiguações”, conta.
Os processos em tribunal são mais que muitos. A GNR já lhes bateu à porta muitas vezes, exigindo que Armindo não circule assim vestido. Nada feito. Ninguém consegue mudar-lhe o hábito nem moldar-lhe a vontade. No posto da Guarda Nacional Republicana de Campo de Besteiros até já se habituaram. Todos os novos militares são avisados da existência deste improvável “camarada de armas”. Os agentes da autoridade queixam-se somente das zaragatas em que Armindo se envolve nos cafés quando o embebedam. Temem ainda que um dia seja atropelado, pois o “colega” anda a pé por todo o concelho. Já foram buscá-lo a quase todas as freguesias de Tondela.
Este menino de 44 anos é inofensivo. Os adultos que o rodeiam nem sempre são. Não raras vezes, a doença de Armindo é alvo de maldade. Quando o embebedam, por exemplo.
domingo, 29 de junho de 2008
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Alguém explica?
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Barro negro de Molelos – Da tradição à modernidade
Arte de tanoeiro viva em Campos de Besteiros

terça-feira, 13 de maio de 2008
sexta-feira, 25 de abril de 2008
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Ruas de Viseu, caminhos de vida





Ambas as ruas desaguam na Praça D. Duarte, 11º Rei de Portugal, que do alto da sua estátua vigia a Rua Augusto Hilário, conhecido fadista, expoente máximo do fado e da canção de Coimbra, falecido com apenas 32 anos de idade. Com a mesma idade morreu Augusta Cruz, cantora lírica, que, antes de dar nome à rua vizinha, percorreu os palcos de Itália, Polónia, México, Cuba e Brasil.




domingo, 20 de abril de 2008
Sinfonias de Alice Campos
Dissonâncias
eu sou dos cães o latir, da idade o pressentir e do sonho o resistir. venho debaixo do seio por este meio no leito do teu peito. eu quero dizer o sabor da fruta, ser-lhe polpa e caroço, mordê-la antes de ti. vou da tua boca à beira de outra boca, à beira de outro ser. as minhas filhas são as que das outras bocas nascem, as que dos outros seres se inventam. guardada atrás dos olhos sou-lhes o brilho, a serena expressão das águas. fechada dentro da mão sou a palavra inquieta, os dedos do afecto. e, se de um extremo ao outro da terra, houver uma árvore descalça, sou um segredo do vento, uivo à solidão. eu sou o nome das ruas, a dor das escadas, a inaudível flor nocturna. em mim, existem os astros, as areias minúsculas, todas as coisas divinas e nauseabundas. de prostituta a santa, eu posso ser a alma do mar, o que religa o céu aos desenhos das crianças. no ventre das cidades, das temperaturas registadas no teu corpo, eu sou a dança. eu sou o mito das canções. chamo-me voz.
Esta poeta tem que dizer: Alice Campos
terça-feira, 25 de março de 2008
sexta-feira, 21 de março de 2008
Homem vive em palheiro às portas de Viseu
É alcoólico. Perdeu-se da vida. Ou a vida perdeu-se dele. Tanto faz. Hermínio vive num palheiro, ou melhor, na metade do palheiro que lhe coube nas partilhas familiares. Tem 56 anos e há mais de 10 que conhece apenas o caminho de casa para os cafés da aldeia e dos cafés para o “jazigo” que lhe serve de morada. “Puseram-me aqui para morrer”, acusa.
Numa divisão que faz as vezes do quarto, da cozinha e da casa-de-banho, há roupa a secar numa corda. Ao canto, um fogão de campismo jaz sobre uma mesa. Mesmo ao lado, uma retrete que Hermínio cobre com uma caixa de papelão. Um frigorífico vazio enche o resto do compartimento. Em Lustosa, freguesia de Ribafeita, concelho de Viseu, toda a gente o conhece. Os habitantes locais habituaram-se, há muito, a vê-lo passar montado na sua motorizada a caminho de um dos cafés.
No “Central”, o proprietário defende-lhe a bonomia “quando não está com os copos”. Afirma já ter recusado servir-lhe vinho e que, nessas alturas, Hermínio se zanga com ele, desaparecendo durante semanas. “Até já quis levá-lo a Coimbra, ao Sobral Cid, para que ele se tratasse. Há mais de dez anos que ando a tentar”, queixa-se Amadeu Carvalho.
No balcão do café, a mulher de Amadeu, Ilda Ascensão vai servindo cafés e cálices de aguardente aos clientes que entram no estabelecimento. É raro o homem que, com o café, não beba um “cheirinho”. Enquanto organiza copos, chávenas e colheres, Ilda conta que houve uma rapariga de Águeda que veio atrás de Hermínio. “Gostava dele. Se ele tivesse deixado os copos, a rapariga teria ficado por cá”, diz.
Hermínio foi, em tempos, condutor de veículos pesados. Hoje vive do Rendimento de Inserção Social e dos favores dos vizinhos. Visitado frequentemente pelas técnicas de serviço social, é considerado um caso de risco. A população quer interná-lo. Ele não quer ser internado. Amadeu diz que mais dia, menos dia, se ele não for tratado, morre. “De cirrose, no resultado de uma zaragata, ou num acidente com a motorizada ”, prenuncia.
O muro da discórdia
Entretanto, no palheiro, Hermínio insurge-se contra o muro que divide a sua metade e a metade do irmão. Foi ele que construiu a parede, mas culpa o irmão de lhe roubar vinte centímetros de espaço.
Devido às desavenças entre os irmãos, Custódio Ferreira, presidente da Junta de Freguesia de Ribafeita, não pode recuperar o compartimento. “Chove lá como na rua. Queria dar-lhe condições de dignidade, mas assim não é fácil”, lamenta o autarca, que explica a dificuldade de candidatar o palheiro a um programa de reabilitação do município de Viseu. “O palheiro não é uma habitação e, se os irmãos não se entendem, eu não consigo fazer nada”, diz.
Se não houver soluções, Hermínio vai continuar a viver numa divisão em que se amontoam cama, mesa e retrete. E a tomar banho de regador. A água, saída do poço, corre-lhe fria pelo corpo, quer no Verão, quer no Inverno.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
A melhor amiga do Victor
Saracoteando as gordas ancas pela estrada fora, a porca Ruça segue atrás do dono. Vai ao café do ‘Francês’. Escolhe, para isso, o passeio de terra batida. “O alcatrão magoa-lhe as patas”, explica Victor Tavares, o proprietário do animal que, há já quatro anos, escapa à tradicional matança do porco. Diz não ser capaz de matá-la e que “vai morrer de velha”. No estabelecimento comercial, em Carvalhais, concelho de S. Pedro do Sul, ninguém estranha a chegada de Victor e da sua porca. “É como um cão. Segue-o para todo o lado”, dizem à porta do café e em toda a aldeia.
A habilidade da Ruça já chegou a ser motivo de aposta. “Um amigo meu não acreditava que ela anda atrás de mim para todo o lado e apostou 50 euros. A meio do caminho, desistiu”, conta Victor Tavares, que gosta de ver os animais à solta pela quinta. E, chamando a atenção para a cor rosada da Ruça, acrescenta: “É como com as pessoas: se tiverem liberdade, têm melhor cor”.
Foi, aliás, por Ruça andar muitas vezes à solta, que Victor se deu conta de que a porca o seguia por toda a propriedade enquanto ele trabalhava. Os passeios pela quinta e por toda a aldeia tornaram-se uma rotina que já nenhum dos dois, nem ele nem ela, podem dispensar. Está na hora do regresso dos dois a casa. O caminho é feito com lentidão. Inclui paragens. Ruça estanca à porta da morada do pai de Victor. Força o portão do curral. “Vai ver os filhotes”, comenta o dono, enquanto a ajuda a entrar para a loja onde se encontram leitões, galinhas e garnizés. A porca ronca aos filhos em jeito de cumprimento. É difícil fazê-la sair, de novo, para a rua. Victor apela, então, ao estômago de Ruça. Sem nunca usar de violência nem levantar nunca a voz, oferece-lhe ração dum balde que lhe coloca à frente do focinho. A porca segue-o.
Mais à frente, outra paragem. “É a casa do padeiro. Cheira-lhe a farinha”, explica o dono. Vagarosa, Ruça abandona a ombreira da casa do padeiro e faz-se ao caminho. Vai comendo as ervas do passeio. “ Anda, Ruça, que eu tenho de ir trabalhar”, pede Victor. Mais uns passos e ei-los em casa. Para que o animal entre no curral, existe um segredo só dos dois, até agora. “Tenho de entrar primeiro e chamá-la. Ela entra e fecho a porta. Depois, eu salto o portão”, ensina Victor. Tudo indica que sempre assim vai ser. Até que a morte os separe.
Cerieiro artesanal de S. Pedro do Sul é único no País
No barracão de madeira construído por ele, os utensílios artesanais misturam-se com os brinquedos dos netos, uma televisão de onde irradia o programa da Fátima Lopes e uma salamandra que aquece o ambiente. A mulher, o filho e a nora ajudam na arte. Duas cadelas preguiçam ao pé do lume. “O processo é idêntico ao do azeite. Os favos chegam aqui sujos. Vão para o lagar onde são centrifugados. O mel sai para um lado, o lixo e o pólen para outro e a cera limpa para outro. Depois, fazem-se umas barras como as do sabão azul”, explica o artífice.
Começa, então, o trabalho de equipa. A família distribui-se pela maquinaria artesanal. As barras, de um castanho claro, passam para as mãos de Fátima, a nora de António Tavares, que a deita para um caldeirão de água quente a fim de derretê-la em “banho-maria”. O caldeiro, engenhoca inventada por Victor, filho do cerieiro, tem um filtro que separa a sujidade da cera, que assoma à superfície. “Tal e qual o café”, conta o ancião. Uma tábua de cozinha, introduzida na vasilha, faz o resto: a cera, de um amarelo translúcido, adere e sai em finas lâminas, que Maria, mulher de António, introduz em água e, seguidamente, numa máquina, cunhando com alvéolos as placas. Do lado oposto, António Tavares espera. Nas mãos segura uma régua, recebendo com cuidado as chapas marcadas com pequenos favos. Nessa altura, já Victor está a postos para as cortar em pequenos rectângulos, que se juntam ao amontoado correspondente a uma encomenda, que há-de atravessar o oceano, em direcção à Madeira. “Esta é boa. É de mil quilogramas. Vai render mil euros”, diz o artesão. E conclui: “As contas aqui não se fazem ao fim do mês. Fazem-se no fim do ano”. O negócio rende pouco, mas mantém a família unida em torno de uma arte que já vem de longe.Em Carvalhais, no concelho de S. Pedro do Sul, toda a gente conhece o cerieiro António Tavares. É o único do País que ainda trabalha de forma artesanal.
Tem 69 anos de idade. Trabalha há 60, tendo aprendido o ofício com o pai. Os cortiços das abelhas não têm segredos para ele. As encomendas de lâminas de favos para as colmeias chegam de todo o continente, das ilhas e, até, de Espanha.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Edição de terça-feira, dia 29 de Janeiro de 2008

Fotografia de Nuno Ferreira
Dalila Rodrigues nasceu há 47 anos no concelho de Penedono. Tem sete irmãos e uma filha com 21 anos. Doutorada em História de Arte, é considerada uma das maiores especialistas em pintura portuguesa antiga, sobretudo de Grão Vasco. Foi directora do Museu Grão Vasco (MGV), em Viseu, entre 2001 e 2004. Em Novembro de 2004 foi nomeada directora do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) pela então ministra da Cultura, Maria João Bustorff. Foi afastada do cargo em 2007 por Isabel Pires de Lima, actual ministra da Cultura, depois de ter criticado o modelo de gestão em vigor para os museus.
Dalila Rodrigues defendia a autonomia financeira e administrativa do MNAA relativamente ao Instituto dos Museus e da Conservação e a articulação directa do museu com o gabinete da ministra da Cultura. Muita tinta correu depois do afastamento da antiga directora do MNAA. Uma petição deu lugar a muitas assinaturas de gente que protestou contra a decisão do Ministério. A tinta continuou a correr em jornais e revistas. Artigos de opinião, entrevistas e comentários anónimos manifestavam posições contra e a favor de Dalila Rodrigues. A historiadora cansou-se da “história” e refugiou-se dos olhares de fotógrafos e jornalistas. Escreveu um livro intitulado, simplesmente, “Grão Vasco”, que apresenta amanhã, no Teatro Viriato, em Viseu. Foi como autora desse livro que acedeu dar esta entrevista.
A conversa com Dalila Rodrigues vai para o ar após as 21h.
Depois, há uma história. É da autoria de Daniel Abrunheiro e chama-se "Avenida Lázaro".
Entre as 23h e as 24h, na rubrica Filhos da Madrugada, homenageamos Janis Joplin.